terça-feira, 28 de junho de 2022

Ler, Ouvir Conversar: A tradição do Sarau

 Aqui disponibilizamos em cores as fotos do livro:

Ler, Ouvir, Conversar: a tradição do Sarau.

De: Djair Rodrigues de Souza. - ISBN: 978-65-0045059-0






p. 28 –  A Leitora [Almeida Junior, 1892 – Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo, 141x95 cm]; foto: Rômulo Fialdini; reproduzido de <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra934/leitura>.



p. 29 – Moça com livro [Almeida Junior, s.d. - Acervo Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, 50x61 cm]; foto: João Musa, cedida pelo Museu; disponível em:

<https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT2YCbJpakGpglj-09Sm1ZM5ZKMEiFxBXixc_CkYKpe1-rQjLGs8WrEMbrCiVQQ8pZummsU7OF6HDO-EA0vFlaDMqPKuatHz8BJjpENdy0Xo-Ryil8sQipahcQ0kYQe94SxW5TXNL7SyY/s1600/AlmeidaJuniorRepouso.jpg>.





p. 30 – Repouso [Almeida Junior, s.d. - Coleção particular, 85x115 cm]; foto: Rômulo Fialdini; reproduzido de

 <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra943/repouso>].



p. 35 – Na tarde [Hans Thoma,1868 – Acervo Hamburger Kunsthalle Museum, 157x115.3 cm]; reproduzido de <https://pt.wahooart.com/@@/9DHBK4-Hans-Thoma-O-Fim-do-Dia>.





p. 37 – Silêncio na biblioteca [autoria desconhecida, 2018]; reproduzido de: https://www.unicesumar.edu.br/campanha-pede-mais-silencio-na-biblioteca/>.




p. 40 – Calundu [Zacharias Wagener, século XVII] – Acervo Kupferstich-Kabinett der Staatlichen Kunstsammlungen, Dresden; reproduzido de <https://vermelho.org.br/2014/05/23/do-calundu-ao-candomble/>.




p. 43 – Congada ou Festa de N. Sra. do Rosário, padroeira dos negros [Johann Moritz Rugendas, século XIX; do álbum Viagem Pitoresca ao Brasil, 24,6 x 33,4 cm]; foto Márcio Pinheiro; reproduzido de <https://culturalmenteversados.files.wordpress.com/2016/09/saopaulo-cultura-congado.jpg>.




p. 54 – Sarau lítero-musical-dançante (1928); reproduzido de Fon-Fon, edição n.44, 1928 – Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.




p. 55 – Sarau beneficente (1914); reproduzido de Fon-Fon, edição n.50, 1914 – Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.




p. 57 – A declamação (1926); reproduzido de Fon-Fon, edição n.49, 1926 – Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.



p. 58 – Sarau de aniversário (1923); reproduzido de Fon-Fon, edição n.35, 1923 – Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.



p. 67 – Hora da leitura [Autoria



desconhecida, s.d.]; reproduzido de <
https://www.sesc-sc.com.br/blog/Manager/show_image.php?show_arquivo=institucional&show_campo=institucional_imagem_pq&show_chave=Institucional_id=2917>.



p. 67 – Contação de estórias (Carlos Otelac) – Apresentação no CEU São Mateus - São Paulo; foto de Mauricio P. Alves de Souza.


p. 69 – Mapa de ações do PNLL (2010); reproduzido de <http://slideplayer.com.br/slide/1784089/7/images/4/Eixo+3.+Valoriza%C3%A7%C3%A3o+da+leitura+e+comunica

%C3%A7%C3%A3o.jpg>.




p. 76 – O “leitor” de hoje?; fotografado das paredes da Biblioteca da Faculdade de Ciência e Tecnologia – FCTUNL, Campus de Caparica, Portugal, 2019.



p. 82 – Primeiro de Maio – Dia do Trabalhador [Autoria desconhecida, s.d.]; reproduzido de <https://www.brasil247.com/images/cms-image-000589079.jpg>.



p. 85 – Sarau da Cooperifa (2019) [Autoria desconhecida, 2019]; reproduzido de <http://3.bp.blogspot.com/-

alLjqXAI4gA/U9jJmqv0_hI/AAAAAAAAAxE/t_uAgmjo1hI/s1600/Foto969.jpg>.



p. 87 – Sarau do Binho (2017) [Autoria desconhecida, 2017); reproduzido de <http://www.almapreta.com/images/2017/02/Sarau_do_BinhoEditada.jpg>.




p. 91 – Sarau Thelema (Sarau do David) – Adrielly Costa Antônio, c. 2018]; foto: David Rodrigues da Rocha.



p. 92 – Sarau da Barão – o poeta Andrei, 2018; foto: Djair Rodrigues de Souza; arquivo pessoal.




p. 93 – Sarau da Barão (2018); foto: Djair Rodrigues de Souza; arquivo pessoal.




p. 95 – O poeta Marconi Fonseca (2019); foto: Djair Rodrigues de Souza; arquivo pessoal.



p. 96 – Verso do cartão de visita do poeta Marconi Fonseca (2018); foto: Djair Rodrigues de Souza; arquivo pessoal.



p. 98 – Café com Letras (2015); foto: Leonardo Picinati; arquivo pessoal.



p. 101 – Banner do Café com Letras (2015); foto:
Djair Rodrigues de Souza, 2019; arquivo pessoal.



p. 106 – Sarau da greve (2014); autoria desconhecida; arquivo pessoal.



p. 111 – Sarau da greve (2014); foto: Djair Rodrigues de Souza; arquivo pessoal.



p. 113 – Sarau do ‘seu’ Camilo [Alexandre José da Silva - Poeta Vulgo Mini]; CEU – Centro Unificado Educacional São Mateus, São Paulo; foto: Eli Vieira do Nascimento Júnior.



p. 115 – Contação de histórias [Carlos Otelac]; CEU São Mateus, São Paulo; foto: Maurício P. Alves de Souza.



p. 122 – Sarau do Binho; foto: Sheila Signario; reproduzido de

<https://tvbrasil.ebc.com.br/artearte/episodio/sarau-do-binho>.



p. 130– Sarau da greve (2014); autoria desconhecida; arquivo pessoal.




p. 133 - Sarau da greve (2014); foto: Fabio Massanti Medina; arquivo pessoal.



segunda-feira, 8 de julho de 2019

Sobre uma Greve, um reitor, e umas batatas




Sobre uma Greve, um reitor, e umas batatas, poema de Bartolomeu Poeta, escrito durante a greve de funcionários Técnico-Adminstrativos em 2014 na UFES - Universidade Federal do Espírito Santo.

A declamação ocorre na tenda de resistência do Sindicato dos trabalhadores da UFES durante uma das edições semanais do "Sarau da Greve".
Por George Vianna Souza Silva.




Vídeo de , Roberta Estefânia Soares.

sábado, 6 de julho de 2019

Sarau da Barão - depoimento de Ruth Lea Souza Rangel

Sarau da Barão - depoimento de Ruth Léa Souza Rangel
Enviado por e-mail, conforme solicitação pessoal.

·
1 – Como se deu o início do sarau que você coordena?
O Sarau surgiu com a quando resolvi criar o Ponto do Livro (local de doação
de livros). Fiz o primeiro sarau para inaugurar o ponto e a resultado foi tão
legal que veio a ideia de torná-lo mensal.

2- Existe uma periodicidade para os encontros?
Sim. Acontece toda primeira quinta-feira de cada mês.

3- Quantos já foram realizados até agora?
O Sarau acontece desde julho/2015

4- Qual o número estimado de participantes a cada sarau?
20

5 – Você costuma frequentar outros saraus? Quais?
Sim. Locais públicos e casa de amigos.

6 – Já existiam manifestações semelhantes em Vitória?
No formato do Sarau da Barão não.

7– Tem conhecimento de saraus por zonas mais periféricas de Vitória ou da
Grande Vitória?
Sarau Empretesendo - Espaço Odomodê

8 – Qual a impressão mais forte que um sarau deixa em você?
O poder da poesia em unir as pessoas. De repente pessoas que nunca se
viram, descobrem-se por meio da poesia.

9 - Que outros saraus você costuma frequentar?
Quarta Poética – Loja Thelema e em casa de amigos.
E eventos na casa de Casa de amigos

Sarau da Greve, o que foi? Depoimento de participantes

REUNIÃO COM PARTICIPANTES DO SARAU DA GREVE
11 outubro 2018
Participantes:
                        Djair Rodrigues de Souza (coordenador de eventos culturais da Biblioteca Central da UFES)
                        Fábio Massanti Medina (diretor da Biblioteca Central da UFES)
            George Vianna Souza Silva (revisor de texto da editora da UFES)
Roberta Estefânia Soares (revisora de texto da editora da UFES)
                        Rogério Fraga (produtor cultural da editora da UFES)
                       
           

O que foi para vocês o sarau da greve?

Roberta: O sarau da greve foi o melhor momento da greve, porque naquele momento da greve eu estava quase desistindo, desanimei, porque eu não conseguia participar daqueles debates em que um ficava falando e outros dois tentando superar a fala do outro. Então, eu saí daqueles outros espaços e no sarau da greve eu me sentia mais à vontade, de ouvir outras pessoas, de selecionar textos para falar também, textos que de algum modo tinham a ver com o momento que a gente estava passando – de reivindicação.

Bartolomeu: Eu também considero o melhor espaço daquela greve e até participei bastante de atividades  variadas durante a greve mas (no sarau) acho que a gente podia externar muita coisa que a gente estava sentindo, que estava pensando – e através da poesia, que é um negócio muito bacana, em que se pôde conhecer muita gente, conhecer o talento de muita gente, o que é bacana também, pessoas que às vezes são meio tímidas e meio presas que lá, no sarau, acabavam se soltando, todo mundo lia um texto, falava um poema, ou cantava uma música. Eu gostei muito, um tempo muito bom, um tempo mais leve, ao contrário da greve, que é um negócio meio tenso, muito embate, geralmente se sai das reuniões com a cabeça doendo de tanto ouvir falação. O sarau, não, um negócio mais leve, em que a gente ia predisposta a se abrir, a ouvir o outro e ouvir um pouco de arte. Foi muito bom,
mesmo.

Roberta: Uma coisa interessante da qual me lembro é cada dia do sarau era um espaço diferente da Universidade, o que era bacana porque era uma oportunidade da gente poder explorar diversos cantinhos da Universidade.

Fábio: Tudo o que a Roberta e o Bartolomeu falaram faz todo sentido nesta questão. Primeiro, que é o momento de uma greve, de tensão, de reivindicação, de levante de uma categoria em prol de um objetivo e as nossas greves foram motivos de muita luta e de muito embate, embates internos à própria categoria, do próprio movimento de greve. E esse ineditismo (se é que se pode usar esta palavra), veio para tornar mais suave aquela luta, preencher os espaços da programação de greve, de setoriais, atos de ocupação e outras coisas. Foi uma coisa da cultura, da poesia, de uma coisa mais lúdica, mais agradável, e pôde proporcionar essa interação entre os colegas. Não era o simples fato de ficar, concentrado num determinado local, para se fazer presença, para ser visto, mas também por trazer esta integração de a cada dia ocupar um espaço diferente, a cada dia a gente estar diferente e ter um texto já disponível para quem quisesse ler, tinha espaço para produções autorais, e na hora da pesquisa para escolher o texto a gente colocava um pouco do sentimento que estava sentindo, para externalizar aquele momento. Foi tudo muito agradável, e o fato da cultura entrar naquele espaço agregou muito. Pena que muitos dos organizadores da greve não entenderam dessa forma e criticaram muito. Mas o que gostei foi a nossa insistência e, mesmo apesar das críticas, das posições contrárias, nós permanecemos fazendo essas ações ao longo dos 3 ou 4 meses, importantes para preencher nossos espaços de inatividade – imaginem a gente ficar de braços cruzados, sem fazer nossas atividades em ato de protesto; como preencher aquele tempo? conversando ou dialogando, mas sem ter ações propositivas que proporcionassem algum tipo de reflexão. E como a Roberta disse, pessoas que em um primeiro momento estavam tímidas, estavam com receio de se expressar, de ir lá e se apresentar, na sequência em que foi ocorrendo mais saraus, as pessoas foram se motivando a ler um texto, uma poesia, a se manifestarem.

Rogério: Pra mim, como eu nunca tinha me engajado em um comando de greve, foi tudo muito legal por tudo isso que vocês falaram – principalmente quanto à integração, quanto ao conhecimento de colegas da Universidade por um caminho mais lúdico, mais gostoso, mais leve, mas que também não deixava de ser contestador, porque os próprios textos, das poesias, das falas, seguindo uma linha poética, eram também de contestação, reflexão, de crítica a modelos, e eu acredito que estes saraus permitiram para todos um outro olhar sobre as possibilidades que uma greve oportuniza. Talvez seja justamente por este aspecto de distanciamento da vida de um trabalhador, de outros aspectos da vida de um trabalhador, numa ênfase muito mais de luta, por direitos, conquista, de enfrentamento a abusos ou supressão de direitos, é que enfraquece o objetivo final, porque dá para perceber, nos discursos e no estatuto dos sindicatos, os aspectos ligados à luta são esmagadoramente dominantes no objetivo maior da existência do indivíduo enquanto ser, enquanto a cultura, a música, a dança, a literatura, vêm justamente para mostrar o lado humano do sujeito. E esse sujeito não deixa de ter esses valores, essas demandas de sensibilidade, só por estar dentro de um movimento de luta; inclusive se ocorrer [algo como o sarau] numa penitenciária, um lugar de muita dor, opressão e cerceamento de espaços físicos e mentais, a poesia, a cultura, podem entrar como um instrumento de humanização. E a greve, principalmente esta, que foi a greve mais longa pelo que já ouvi das falas (não pesquisei, mas li isso em um texto divulgado pelo sindicato) e eu tive a sorte por ter ficado no comando de greve e ter vivenciado numa experiência, no comando, na greve mais longa, logo ela permitiu n possibilidades e a gente percebeu que quando o sarau perde força, e não apenas o sarau porque tinham outros projetos culturais (o filme, o cinema), então estas atividades culturais, algumas palestras em torno de alguns temas, quando tudo isso começa a ser perdido, a greve também perde a sua força agregadora, pois justamente pela decorrência do tempo que ela levou, os conflitos internos afloraram (eu mesmo não sabia a quantidade de grupos que estão dentro de um sindicato, porque eu era uma pessoa analfabeta do movimento sindical e fiquei estarrecido de ver essas divisões ideológicas dentro do próprio grupo que se propõe a lutar por um grupo maior que são os sindicalizados), o sarau então teve este fator importantíssimo e geralmente, e isso é uma pena, que ele não é parte constituinte (das atividades) de um sindicato, que vai ser colocada ou potencializada em um momento de greve, mas que ele é fruto de pessoas como você, que tomou essa iniciativa. Isso demonstra mais uma vez como a gente não idolatra pessoas, mas como pessoas são fundamentais para determinadas mudanças em determinados contextos. Para mim, o sarau foi muito bacana, principalmente por integrar as pessoas, permitir um espaço cultural e, ao mesmo tempo, como foi colocado, algumas pessoas que nem sabiam que tinham esse potencial de, no mínimo, ler um poema que já está escrito, podem se colocar também porque nunca teve essa oportunidade. Porque se colocar (posicionar) em um ambiente de greve é arriscado, pois dependendo do que se fala, se não for do agrado de um grupo que está no comando, mesmo não sendo a maioria, ele consegue distorcer e até destruir a intenção, a potencialidade, de uma pessoa – o que num sarau não acontece.

Djair: Em tese, porque durante a greve, o sarau foi um tanto boicotado…

Rogério: Eu quis dizer que no sarau, enquanto identidade própria, daquele grupo que fez o sarau, isso acontece. Enquanto já lá dentro da tenda…

Djair: Inclusive eu ouvi aos gritos que não devia ter sarau nem cineminha. E isso depois foi usado várias vezes, pelo próprio grupo do sindicato, para dizer que houve duas greves: a dos funcionários e a da biblioteca. E por que? Porque fazíamos o sarau, fazíamos o cine-greve.

Fábio: Mas eu acho que essa comparação ocorre é porque, nos outros tempos, a biblioteca foi muito forte nessa questão de mobilização em torno de greve. A partir do momento que isso foi ficando mais enfraquecido, uma das posições opostas era a de não entrar no movimento porque entrar numa greve e ficar debaixo de uma tenda, jogando baralho, jogando dominó. Então a gente tinha de fazer ações mais propositivas e acho que essa proposta de fazer cinema, fazer sarau, fazer palestra, uma forma diferente para ocupar o espaço sem ficar naquele estereótipo – os setores debaixo da tenda cruzaram os braços – era [uma forma de] estar ocupando para conhecer a própria instituição porque, no dia a dia, a gente não consegue explorar nosso espaço de convivência, isso de certa forma causou um certo estranhamento para o grupo e, quando a gente estranha uma coisa que não conhece, a gente tende a criticar, mesmo sem conhecer o fundamento. Me reportaram que num sarau que teve em Maruípe [outro campus da Universidade, que concentra as faculdades de ciências biológicas e o hospital universitário], um dos colegas da greve foi fazer uma declamação mas num tom de ironia, de menosprezo. E quando ele tomou conta que o grupo do sarau não se retraiu diante dessa ofensa à poética, ele começou a ver que aquilo que era realmente uma coisa séria, levada com um grau de responsabilidade, ele depois retomou a palavra, declamou, cantou uma música, mudou um pouco o seu conceito – poxa, o sarau é bacana! Poesia é chato mas é bacana interagir! O sarau meio que adentrou o espaço da greve, apesar de ter sido cerceado em um momento de estar criando dois movimentos, se compreendeu que, não, era um movimento único com duas instâncias diferentes.

Djair: Pois a ideia era somar…

Fábio: Exatamente. Era tirar do espaço comum dentro daquele contexto [de greve] a que se estava acostumado. Por isso [a crítica] de duas greves, dois movimentos. Não, era apenas uma forma das pessoas que não se sentiam confortáveis para participar daquele modelo de greve.

Rogério: Mas a gente também tem de entender que as idades, as experiências, vão consolidando o modo de ver o mundo. Então, devemos tentar um grau de resiliência desse outro lado do olhar, da incapacidade de muitas vezes perceber a importância desse movimento que foi o sarau, mas também, da maneira com que eu vivencio, se a gente tem força para continuar com uma ideia e acreditar nela, se ela é realmente forte e importante, ela viceja. Mas a tendência nossa quando encontramos determinados obstáculos, não só na questão da cultura, nos esportes também, o protagonista, o líder, é a matriz que continua e fortalece e potencializa, mas ele se deixar abalar por alguns empecilhos e obstáculos, é natural que perca força. Então acredito nisso: a gente consegue mudar alguns modelos se a gente persevera, mas se ver que não há uma ressonância por parte dos demais talvez não seja o melhor momento para aquilo, talvez o marketing chegou antes da potencialidade do mercado. No nosso caso, não percebi isso. Percebi que quando ficamos com a atividade, ela sempre teve público, nunca ficou pouquinha gente (pelo menos, nas que eu vi), todas tinham pessoas em número suficiente para fazer o evento. E que fique também de exemplo para que, no futuro, se tiver uma greve, ou várias greves, que alguém tenha essa possibilidade de puxar esse modelo de atividade porque não tem como uma atividade dessa não dar certo. Ela poderia ser até uma luta dentro da própria luta.

Djair: Uma pena a Lara não ter vindo porque foi ela, em um dos últimos saraus, que chegou para mim e disse: “Agora, eu vou confessar uma coisa. Eu não gostava de poesia e, depois do sarau, passei a gostar e hoje eu adoro. Eu vi que poesia não é só aquela coisa melosa de amor.” Então, outros casos podem ter acontecido. Em Maruípe, um senhor disse: “Ah, eu vim porque falaram para mim que está tendo um sarau, vai lá. Eu pensei: sarau deve ser uma coisa chata pra caramba!”, depois se soltou e tudo. Uma outra pessoa, uma senhora que foi visitar alguém que estava no hospital, e viu o sarau acontecendo e disse: “Gente, eu estou adorando isso!”

Rogério: São exemplos gratificantes, sem dúvida. Revelam nossa pobreza cultural. Quem teve sarau? Eu não tive nenhuma experiência desta nem na graduação, nem na pós-graduação, nem no ensino fundamental e médio. Ou seja, nós, enquanto sociedade, somos muito pobres de atividades dessa natureza. Eu sempre acredito que a educação deve oportunizar o máximo de possibilidades de experiências, porque muitas das vezes, se pegar um caso do esporte, o badminton não é um esporte tradicional no Brasil mas se desenvolveu um projeto de badminton numa favela de lá, o cara conheceu o esporte e, com mais de 30 anos, se tornou campeão brasileiro. Isso mostra que existem possibilidades para tudo e que é fundamental que nós, que às vezes dominamos algumas áreas do conhecimento, suficiente para compartilhar, promovemos, facilitemos o acesso a essa experiência, e o sarau foi um desses tipos. Eu só tive conhecimento do sarau quando começou o Circuito de Leitura, que eu também não conhecia. Eu entrei no Circuito de Leitura sem nem ter ideia do que ia ser. Quando o cara colocou lá – sarau – nem tinha ideia do que estava acontecendo. A primeira experiência foi ótima, em São Mateus [campus regional da Universidade], e fiquei encantado com a quantidade de gente que foi e sua participação efetiva dentro do sarau. Ali, eu conheci o sarau, com mais de 50 anos de idade. Então, isso, do ponto de vista cultural e da própria Universidade, o movimento de greve deveria se sentir realizado enquanto proponente de atividades de formação – porque a greve também é um processo de formação – e ter o sarau como uma atividade de greve, o que deveria ser colocado (e eu me proponho a isso, pois continuo a ir ao sindicato de vez em quando, mais por causa do esporte) para a diretoria de esportes, cultura e lazer. O que as pessoas estão fazendo lá? É importante resgatar para além do forró.

Bartolomeu (??): Eu acho que o pessoal da diretoria do sindicato, que já vem fazendo greve há muito tempo, ficou muito assustado porque houve uma adesão muito grande mas de gente também querendo fazer a greve. Antes, o pessoal estava de greve mas quem fazia o movimento da greve eram 10, 12 pessoas, e nessa greve eu senti que houve a adesão de muita gente nova, muita gente jovem na UFES, e aí o pessoal da diretoria ficou meio amedrontado: “sarau? O que esses caras estão tramando com isso? Outras atividades, cinema?”

Fábio: Oportunidade de novas ideias, novos debates, questionamentos.

Bartolomeu (??): É, eu acho que eles fecham tanto que a greve fica lá, não pode sair da tenda…

Djair: A greve era não estar trabalhando, apenas isso.

Bartolomeu (??): É, e eu acho que isso, sim, foi bom, para eles, os que estavam coordenando a greve, porque um sarau e movimentos assim ganham mais a empatia das outras pessoas que não estão fazendo greve, que estão no campus, circulando. Eles estão em greve, mas estão fazendo coisas culturais, estão promovendo atividades na greve, não estão simplesmente parados. Então, eu acho que o sarau foi bom para a greve e eles não perceberam isso, pelo contrário, estavam tão de cabeça fechada que acharam que era uma coisa ruim. A mulher do hospital pode ter pensado: “puxa, eles estão de greve mas estão fazendo uma atividade bacana!”

Rogério: Ele levantou uma questão que foi muito percebida, como eu tinha colocado que nunca tinha entrado num movimento: há uma relação de nichos de poder e isso coloca em risco esse conceito de poder. As pessoas estão sempre cabreiras se aquilo aí não tem as segundas intenções de apropriar-se do espaço que teoricamente lhe pertence. Então este pertencimento, no sentido de ser dono de posse, fica meio que abalado, e eles não conseguiram perceber que o principal fator era ampliar a participação, empoderar as pessoas, cada um com as suas virtudes e talentos, mas que no final, no que se esperava daquela greve, era justamente que, a partir dessa multiplicidade de atores (que nesta greve foi a mais plural neste sentido) poderia sair um novo olhar, um novo modelo de movimento sindical dentro da Universidade e, infelizmente ainda, eu percebo que não há maturidade para isso.

Djair: O Rogério já antecipou minha próxima pergunta. Vocês tinham conhecimento de sarau, já frequentavam?

Roberta: Eu cheguei a frequentar em Vila Velha, na Academia de Letras de Vila Velha, por conta do grupo de teatro da Barra [do Jucu] que me levou à Academia para apresentações de jogral. E, aí como sempre, a partir das apresentações, eu acompanhava os saraus de lá. O sarau da Academia de Vila Velha nasceu após o sarau que foi feito na Barra do Jucu, na Casa de Cultura da Barra do Jucu. Nasceu lá um grupo e, depois, como tinha mais apoio, nem da Prefeitura, o pessoal da Academia acolheu esse sarau para que não morresse. Eu frequentei por bastante tempo esses saraus.

Bartolomeu: Eu me recordo de ter ido a poucos, pouquíssimos, na época da graduação de Jornalismo. Na Comunicação, de vez em quando, eles promoviam algumas coisas mas pouquíssimas. Foi na greve mesmo que eu passei a estar mais perto…

Fábio: Bom, eu, enquanto formação na área de Biblioteconomia, tive pouco contato com ações promovidas nesse sentido, mas quando já estava atuando numa biblioteca escolar, numa escola de ensino médio, enquanto órgão de cultura dentro do espaço, eu até que promovia alguma coisa com os alunos, em parceria com a professora de língua portuguesa.

Rogério: E isso era um sarau?

Fábio: Era um sarau, exatamente. Um projeto que culminava com um sarau literário, sempre ligado à leitura, onde a gente ajudava na coordenação e os alunos faziam a apresentação. E tive contato com sarau do nosso amigo aqui, que participava do sarau no Shopping Norte-Sul, e fomos lá prestigiar. Tinha um lançamento de livro e depois um sarau. Durante o ensino médio, na escola onde eu estudava, tinha desses eventos - pontuai, não eramtantos, mas sempre havia essa promoção. A gente decorava um texto, ia na frente ler.

Rogério: Eu pesquisei uma definição de sarau e aqui diz que um sarau “é um evento cultural geralmente realizado em casas particulares onde as pessoas se põem para se expressar artisticamente; um sarau pode envolver dança, poesia, leitura de livros, música acústica e também outras formas, como teatro, pintura, comidas típicas.”

Djair:  Ontem eu fui num sarau no centro da cidade, numa loja chamada Camisaria, onde se vendem camisetas, canecas, em cima existe um estúdio de tatuagem, e todas as segundas quartas-feiras do mês tem um sarau de poesia. Lá estava a Mara Coradello apresentando o novo livro dela, de poesias. E na quinta passada eu fui no Sarau da Barão, que acontece no meio da rua, em frente a um bar, tinha bastante gente, declamando, sem microfone, mas todo mundo prestando atenção, não tem conversa. Tem o bar, que serve um jiló recheado, cerveja, e você fica declamando… É bem agradável. E na próxima quinta, dia 18, haverá um sarau extraordinário, dedicado ao Vinícius [de Moraes], porque é seu aniversário, um rapaz que toca Bossa Nova vai estar lá, se estiverem a fim… Começou assim: eles fizeram de um caixotinho uma estante com livros para que as pessoas pegassem os livros e inauguraram com o sarau porque a menina que teve essa ideia expõe na loja Camisaria, cujo dono é bibliotecário. O pessoal gostou tanto e aí todas as primeiras quintas é feito o sarau. O caixote-estante continua lá, com livros e CDs, e tem uma faixa grande anunciando Sarau da Barão…

Rogério: A palavra sarau me lembra sempre…

Djair: Vem de serão de literatura, serões, o que vem depois do trabalho, porque era sempre à noite…
Em Minas, em Oliveira, quando se vai tomar cerveja na casa de alguém, ainda se fala: vai ter serão na casa da Rita. Eles ainda usam esse termo.

Fábio: Vou ter de deixá-los agora, mas rememorando esta história, como essa parte o cidadão aqui me abandonou para fazer pós-graduação, então eu estou levando aos trancos e barrancos esta parte, junto com a gestão da Biblioteca. Estamos mantendo a parte das exposições mas esta parte, de circuito cultural em parceria com a Edufes, e outras coisas…

Rogério: Fica em aberto para a gente fazer o Circuito de Leitura porque não é um projeto que eu escrevi. Eu não sou da área de literatura, eu sinto muita dificuldade em fazer eventos da área. Eu falei para a equipe da Edufes: “olha, vocês são os livros, se vocês os livros não promoverem as atividades de livros, vai ser difícil porque eu vivo na praia, não vivo nesses ambientes. Agora, se for um evento na praia, pode deixar que eu promovo.” Entendeu? Agora se você disser: “Rogério, estou pensando fazer isso e isso.” Vamos embora. Fiz um lançamento ontem, paralelo a nós, fizemos a nossa parte.

Fábio: Estamos sentindo essa falta de parceria, de comunicação entre nós. Por exemplo: às vezes, tem professores daqui que estão lançando seu livro lá na Biblioteca Pública Estadual. Tudo bem, mas a gente tem o espaço para divulgar, pode acontecer coisas fora dos muros da Universidade mas tem coisas dentro dos muros, para trazer o público. Este mês vai ter uma apresentação da FAMES, cujo pessoal vai fazer uma apresentação musical aqui na Biblioteca, no finalzinho da tarde, dia 24. Vou fazer divulgação, procurar contato com o pessoal da Escola de Música para trazer o público.

Rogério: Este é o desafio. Por exemplo, nós temos dificuldades quanto a alguns eventos porque eles não têm dado público. Então, cria uma situação em que a pessoa que a gente convida vem, se prepara e aí não tem ninguém – é uma vergonha! Por isso é que no último evento nós fechamos com duas turmas…

Fábio: Será ali no espaço aberto, vai causar impacto – ou incômodo ou fascínio – mas este é objetivo; durante 45 minutos eles vão fazer a apresentação. Então, quem estiver aqui, ou será chamado pela música ou será expulso por ela, mas eles [os músicos] já estão conscientes deste contexto e vão fazer a apresentação deles. Se tiver 10 pessoas, cem ou se não tiver ninguém, mas eles vão continuar apresentando, alguém vai passar e olhar, ou para ou segue seu caminho. Obrigado pela oportunidade.

Djair: O que vocês mais gostam em um sarau? Ler, ouvir, a poesia autoral, descobrir uma poesia que você não conhecia?

Roberta: Eu gosto de ouvir, nem sempre de participar, mas eu gosto de ler, e quando algo me toca eu sinto vontade de compartilhar com o público.

Bartolomeu: Eu gosto de ler, de ouvir, de autoral, gosto de texto já conhecido, não sei o que eu prefiro, eu gosto muito de ouvir, talvez até um pouco mais do que ler.

Rogério: Eu gosto de tudo. Quando existe uma pessoa que vive aquela coisa é gostoso de ouvir. Tipo: a pessoa escreve, gosta de declamar, e aquele que chega sem papel e faz a apresentação de memória é mais bonito ainda. Eu fui muito mais tocado nessa área por Patativa do Assaré. Quando eu trabalhava na editora, eu recebia livros da editora da Universidade do Ceará e tinha uma série – coleção do Nordeste, e conheci o Patativa do Assaré. Adorei, aquela forma dele narrar as histórias pelo cordel, e levei para casa e lia para os meus filhos, pequeninos. Agora, que são adultos, talvez tivesse mais ressonância. Eles dormiam. O ler é legal.

Roberta: Eu me lembro de numa edição do sarau da greve ter levado alguns livros – um do Drummond e outro, uma coletânea de autores capixabas. As pessoas gostaram mais de ler os poemas do Drummond. Eu escolhi o livro dos autores capixabas porque ele ficou um pouquinho de lado e acabei lendo alguns poemas.

Rogério: No ouvir, eu gosto mais quando o texto tem uma narrativa que não exija tantos pensamentos para decodificar o discurso, quando ele é mais direto, tem um discurso mais objetivo e menos subjetivo, a narrativa a gente acompanha como se fosse uma história, porque nos pensamentos subjetivos, subliminares, a gente perde um pouco a concentração, não está havendo o diálogo. Como dizia Paulo, do que adianta falar em língua se não edifica a igreja? Ou seja, você fala uma língua que ninguém entende, ninguém presta atenção.

Djair: O que é mais difícil em um sarau: ir lá na frente, ouvir aquele poema que já se conhece narrado em outro tom?

Bartolomeu: Ler [na frente do público] é tranquilo. Ouvir, ler, narrar em outro tom é uma possibilidade boa que a pessoa traz para a gente. Se a gente lê de um jeito e outra pessoa lê de outro jeito, uma entonação, uma frase pode mudar… Pôxa, é verdade, tem outro sentido.

Djair: E o que não se gosta em um sarau?

Rogério: Para mim, quando se pega um texto onde ele não tem uma rima, não sei qual o termo técnico, uma rima que se encaixa, ele tem mais dificuldade de ser lido e entendido, até mesmo para quem está lendo. Minhas participações nos saraus foram muito mais de improviso, não foi nada preparado e, obviamente, as pessoas que vivem isso é muito mais gostoso de ver porque já vem preparadas, já pesquisou…

Bartolomeu: Acho que o legal do sarau da greve, em especial, é porque era de muita gente que não vive isso…

Rogério: A espontaneidade.

Bartolomeu: Às vezes, textos truncados, palavras muito difíceis, a gente perde o interesse, e quando a gente vê um público meio leigo, com poemas claros, simples, alegre, isso tornou o sarau mais atrativo. Talvez a dificuldade seria se fosse um poema mais específico, pra galera que já é da área, etc.

Djair: Porque existe às vezes aqueles poemas arrogantes, da academia…

Bartolomeu: É, o cara usa termos…

Djair: Quer demostrar que escreve bem e faltam os sentimentos…

Rogério: Não comunicou, né? Então, talvez, em modelos desses, isso fica para gente como experiência. Esse tipo de modelo, como foi o da greve, quem está propondo pode até trazer opções de um texto um pouquinho mais elaborado, dependendo do tipo de público. Mas no geral algo que seja palatável para todo mundo fica mais gostoso. Os trabalhos de minha vida sempre foram pautados pelo improviso, havia um roteiro de informação do cotidiano tecnico-científico, mas no caso da literatura é um desafio a que me imponho – minha mulher me sugere memorizar um texto do Patativa do Assaré; se você memoriza um monte de música, obviamente você vai memorizar um texto desse, você tem de ter disciplina de ir se preparando e, na apresentação, você se liberta da preocupação da grafia, da métrica e se prende à interpretação do texto que está memorizado: você pode olhar para a pessoa, fazer cenas, gestos, joga para cima o projeto. Para mim, seria muito mais fácil se tivesse o texto na cabeça… Acho que este tipo de coisa é também um hábito – fazendo, fazendo, vencendo as barreiras…

Djair: O sarau da greve era uma coisa mais informal. O sarau em que se tem de ficar de pé, com microfone, no primeiro se tentou assim, mas… Lembro também de outro, na Fábrica de Ideias, durante uma bienal de livros, onde não tinha ninguém, até que declamei um poema e a meninada de uma escola começou… Faltava o primeiro a incentivar.

Rogério: Este tipo de coisa, para a gente que está à frente do microfone, a gente faz parte do contexto. E quando eu estou fora do contexto, chego e sento, me ponho como público, realmente é um choque violento quando a pessoa te puxa… Fica também como proposta atenta: é criar a ambiência de receber o outro com acolhimento e proteção, porque quem está promovendo já está numa posição [privilegiada] e quem chega está numa posição desarmada até um certo limite em relação a você. Então, não existem obstáculos naturais, mas para quem sentou ali, num ambiente que não conhece ninguém, são pessoas leigas, que vieram curtir, é muito impactante colocar essa pessoa: “você, faz o favor, mostra...” Tem de evitar. Mas se fizer, tem de envolver de carinho e de cuidado para não magoar a pessoa, não constranger. É muito delicado isso. Da mesma forma que há carência do sarau, eu vejo a carência danada na formação, seja ela, estudantil, de nós técnicos profissionais, do uso do espaço, de ir para a frente, pegar o microfone – é desesperador como as pessoas usam mal o microfone, se coloca muito perto da boca, o som estoura, ou se deixa muito longe, ninguém ouve nada, ou vira o rosto e deixa o microfone do outro lado.

Djair: Foi diferente, no sarau da greve, fazer fora de uma sala apertada…

Rogério: O ambiente natural é fundamental e se torna mais legal – deu para rimar.

Bartolomeu: Estou me lembrando e cobrando. Teve um poema que ficou bastante conhecido, do Bartolomeu, o poeta, que até hoje acham que meu nome é Bartolomeu. Foi tudo intenso o que acontecia na greve e aconteceu aquele lance do reitor que tinha de surgir batata frita no R.U. [Restaurante Universitário] e todo mundo estranhou – “como, se nunca teve?”, e aí o pessoal da greve dizia que o reitor estava tentando enfraquecer a greve, fazer os alunos ficar contra a gente - “poxa, mas se tem até batata frita, estão reclamando do quê?” E a Anaíse (?), lá da editora, falou comigo, eu fazia de vez em quando uns poeminhas, de brincadeira, versinhos, e ela disse: “pô, vamos fazer uns versos sobre as batatas fritas”. Eu disse não, não, mas naquele dia tinha sarau e, na hora, fluiu tão rápido o poema que eu fiz, meio que na hora decorei e foi um negócio bem legal. Eu o recitei no sarau, depois em outros saraus, outros o recitaram. Foi um momento de protesto de usar o sarau também como uma atividade de greve para mostrar, dar o recado que a gente estava ligado nas coisas que estavam acontecendo ao nosso redor.

Rogério: Surgiu até uma ideia [agora]: uma oficina de produção dos textos que tenham pertinência com a questão da greve. A pessoa pode escrever mas não querer ler, mas ela produz. Outro pode não escrever nada, mas vai querer escolher para ler. Este também é um caminho legal para os saraus. Aí eu vejo sentido na palavra que usavam: “sarau selvagem”. Um sarau que ninguém traz nada e, declamar o quê?, o que se escrever agora! Aí ele se torna selvagem, agora eu quero ver, agora é a hora, bota pra fora, a pessoa escolhe.

Djair: No Quinze, um grupo de sarau do Jardim Camburi [descreve historicamente todo o movimento], o Marconi, etc…

Rogério: Aquele que veio num dos saraus da Biblioteca? Foi muito bom, naquele dia. Teve também o Santos Neves falando da música, o Marconi contando a sua história… Muito, muito bom. Não dava vontade de parar. Foi dos melhores, senão o melhor.