sábado, 6 de julho de 2019

Sarau Café com Letras - Depoimento Leonardo Picinati

Depoimento Leonardo Picinati
30-08-2018

Como se deu o início do Café com Letras?

Foi em 2012 a 1a. Edição, com nove encontros sendo lançados, de agosto a novembro. Eu gosto muito de literatura – essa parte de identificar seu ambiente local, sua moradia, sua cidade, seu bairro, seu estado, por meio do que é escrito, por pessoas que ali moram - é muito legal.
Eu estava fazendo a FAESA neste período e não tinha essa parte do regional da cultura por meio de meio de escritores locais. Quanto tive a ideia para dar visibilidade à quantidade de produção, de gêneros, que existia neste contexto. Primeiro fui pesquisando sobre escritores locais e depois sobre gêneros na literatura local. O que mais me surpreendeu, na verdade, foram os temas; por mais variedade de escritores de quantidade e de gênero; se quisesse estudar sobre o tema mulher, poderia pegar 6, 20, 30 escritores, e graças a leis de incentivo muitos exemplares dos livros publicados. Mas ao mesmo tempo eu não encontrava esses caras e muito menos encontrava esses exemplares. Comecei a perceber também que as empresas que publicaram esses caras tinham muitos exemplares guardados, que, claro, iam distribuindo em seus eventos. Pesquisei também escritores editados em on line. (…interrupção)

Nós tínhamos 116 escritores editados pelas leis, com a exigência de lançar os seus livros. Como não há espaço para lançar esses livros, em público em privado, o CL se tornou o maior evento em quantidade, de duração, era toda 6a. Feira. Hoje nós temos o Barão de Mauá, de 15 em 15 dias, a Causa, uma editora do centro, mas do tamanho do CL… nós lançávamos 3 artistas simultâneos – o escritor, o artista plástico e o músico.

Desde o primeiro evento já havia essa concepção de 3 artistas simultâneos?

A 1a. Edição teve 9 lançamentos, com 9 escritores apenas, com um único músico – o Marcos Trancoso. A gente fazia uma combinação entre o gênero ou o tema e a música. Por exemplo: Tropicália, no momento em que combinava com a obra dele. Alceu Valença foi um escândalo, foi tão sucesso que eu consegui trazer membros da Academia de Letras do Espírito Santo, Feminina, Humberto de Campos e não me lembro de tal repercussão junto à Academia de um evento que era feito no Shopping. A poesia ecoava pelos corredores de um shopping. Tudo poderia sair – os três artistas se “vendiam”, não tinham pauta sobre o que iriam falar, as suas declamações eram fervorosas, os músicos eram autorais e as pinturas podiam ser de qualquer gênero, de qualquer estilo, de qualquer época, poderiam ser criadas novas formas, novas fórmulas. Então, ao mesmo que eram 3 artistas simultâneos, eram 3 artes novas sendo criadas e, nota-se, não existiam músicos autorais dentro de shoppings; existia uma tese que a acústica não era muito boa, então era só voz e violão. E levamos carranca, levamos flauta, levamos trompete, levamos violino, separadamente ou juntos. Uma vez haviam 6 trompetes – meu Deus, vai quebrar o teto de vidro! Esses casos, a gente tinha cuidado, abria portas, etc. E a gente não usava sonorização própria, caixa de som, mesa de amplificação. Percebi que cada nicho de artista tem um posicionamento diferente, uma linguagem diferente, e ali nós uníamos 3.

Voltando. Quando pensei em criar o CL foi por várias necessidades. Não achava exemplares, não conversava com escritores, não aprendia literatura usando o meu contexto social, não sabia dos monumentos históricos que o ES tinha, não sabia das manifestações folclóricas e culturais, não sabia do congo de Barra do Jucu, não sabia do nudismo que muito prevaleceu por aqui, não sabia dos barcos de Regência, dos quilombolas de lá, não sabia de diferenças de poesias – históricas, mais da atualidade, não conhecia milhões e milhões de estruturas que o ES tinha. Eu queria isso – saber das manifestações, das festas, aqui não há um canal onde a gente encontra um catálogo de todas as festas, de todos os gêneros, tem de ficar procurando… Não conhecia coisas básicas do ES e isso retratava o CL – e nele se aguça a vontade de visitar a Toca da Onça, o farol de Santa Luzia, subir o Penedo, subir o Morro do Moreno, querer ir nas areias monazíticas de Guarapari, conhecer as praias de Anchieta. E isso apenas pela literatura, porque estou enfocando apenas os escritores. Mas pelas leis de incentivo a parte de peças teatrais, aulas de pintura, de teatro, a parte visual, vídeos, de técnicas posturais, é muita maior.

Eu não via os artistas nos jornais. NO CL a gente conseguiu. Na última vez, não me recordo bem a média, foram 16 vezes, impresso ou on line, ou radiofônico ou televisivo, por cada encontro do CL. Então se tinham 3 ou 4 jornais impressos divulgando, 2 emissoras de rádio – a Antena1 e a Jovem Pan, on line – SOS Vitória, Jornal de Vitória, Meu Bairro, Jornal no Tempo, uma série de blogs – que se falava da gente. Uma artista do qual se falava 16 vezes na mídia – essa amplitude que a gente conseguiu…

Na 1a. Edição, você foi atrás dos escritores ou, como nas últimas, você abria as inscrições e os escritores se inscreviam?

Isso foi uma coisa que me surpreendeu imensamente. Não sou do âmbito, não frequento os meios, não sou escritor, arranho meus poemas, e tenho uma veia muito forte de empreendedorismo e sou muito qualificado em marketing, tanto em experiência quanto de qualificação acadêmica. Eu sabia que ia fazer um bom trabalho visual e pensei concluir que pela quantidade de escritores e de artistas que existiam no ES, o mínimo de visibilidade que eles tinham tornaria uma coisa fácil. Vamos começar um pocket com 9 encontros, dá 3 meses, faço um lançamento, um encerramento, e esses 11 encontros no total não vai me afetar muito. Inclusive, pegar nos meses mais movimentados, que envolvem o Natal, eu ajunto o público; numa sexta-feira eu pegaria o público entrando e saindo, um happy hour onde as pessoas podiam ouvir música, ter várias artes simultaneamente e não precisava chegar muito cedo. Porque era um shopping e num shopping se você deu, você quer alguma coisa em troca – o que não era a proposta do CL. Mas não era proposta saber o que quanto você trouxe de gente pro CL. Tudo isso foi pensado.

Havia um patrocínio externo ou tudo era um projeto do Shopping?

A 1. edição ocorreu na transição de um shopping grande para um shopping de bairro, com a ideia do dono de abrir vários outros shoppings maiores. Todo mundo pincela a sua cor, quer deixar a sua marca, então eu quero deixar a minha. Algumas coisas eu quero fazer. O CL era uma delas. E o shopping peitou a coisa e alguns projetos eles tiveram de patrocinar. Tive uma responsabilidade maior por não ter a necessidade do peso do retorno. Retorno não é cultura, é entretenimento em que você passa por um outro processo que obriga a pessoa a beber, obriga a consumir, e cultura é o momento de bem-estar em que você desfruta daquilo. Não tendo então esta pressão, gerou para o shopping uma outra qualificação porque se via a pessoa circulando, dando um feedback positivo. Para as partes envolvidas havia uma clareza no objetivo de divulgação: livre para defender sua tese, para mostrar seu trabalho, para comercializar mesmo com livraria lá dentro porque você não precisaria pagar royalties lá dentro; enfim, uma parceria.

Na 1a. Edição eu segui o senso comum. Procurei as Academias de Letras (a Espirito-Santense e a Feminina) que, na minha ingenuidade, [acreditava que iam gostar da ideia], mas percebi que não eram muito familiarizadas com esse contexto de se juntar, de participar de eventos externos e com tanta visibilidade, não do público mas de estar no hall de um shopping.

Acharam pouco nobre o espaço?

Não sei bem, mas com o tempo percebi que não havia essa abertura; 400 [sic] anos de academia e não havia festa, não vi encontros abertos assim, nunca vi nos jornais essas aproximações. Mas Anaximandro Amorim, o mais jovem deles, comprou a ideia. Maria Helena Guedes, uma amiga, que conhecia e pertencia à Academia de Letras Espirito-Santense foi quem me apresentou o Anaximandro e ele foi o primeiro que aceitou. Ninguém mais aceitou. Nos anos seguintes, eles foram chegando, meio arredios, etc. Não sei, como eles não tinham um espaço aberto para esses encontros, os escritores achavam que eu ia cobrar, não acreditavam que haveria divulgação, que haveria banner, que ia ter uma ornamentação, que ia ter cachê inclusive, divulgação em intranets de universidades, de faculdade de letras. Como a gente ligava, a gente nunca conseguiu fazer um edital, a gente determinou que uma boa divulgação do artista necessitava de tais e tais etapas, tanto de tempo quanto de produtos. Então tem a foto, o vídeo deles, com uma série de materiais que iria complementar o evento em si – a ideia era dar visibilidade, oferecer o espaço básico, dar o cachê, a ornamentação, os brindes. Posteriormente a gente conseguiu uma série de patrocínios, uma coisa surreal, investir num espaço privado e não no seu próprio espaço (academia de letras, biblioteca pública, escola, e ai vai).
O Anaximandro aceitou, Maria Helena Guedes foi a segunda, mesmo com medo de ser colocada diante de um público.

Uma coisa é fazer um lançamento, em que comparecem os seus amigos e os seus pares, outra é estar em um espaço em que ninguém lhe conhece, em que há gente que lê e não lê…

Exatamente. Pelo nosso cálculo, nessas três horas de uma sexta-feira, circula uma média de 2.000 pessoas, mesmo que não paradas, elas estão passando e vendo alguém declamar, pintar, tocar. E desta questão lançamos o CL com apenas metade dos escritores com um coquetel e a partir daí os escritores vão ver o que é e fica mais fácil convidá-los. Então não havia uma playlist completa, não estavam todos os escritores, estavam os músicos, o gênero musical que iria ser feito e deixou-se uma abertura para que outros se cadastrassem. Depois disso, nem sei dizer como, foi feito; não fiz edital e tudo foi chegando, preenchendo, cada edição mostrando seu trabalho, e eu explicando qual o mecanismo de visibilidade e o processo de formalização dele, e o resto – se era crônica, se era cordel, se era drama, se era comédia, isso a gente iria ver depois, não seria um quesito a desclassificar alguém. Na verdade, nunca se desclassificou alguém, a gente ia empurrando para os outros anos, para as outras edições. E como não existia nenhuma eliminatória (escolher que gênero deveria ser, qual o tamanho de pintura, qual música ou qual instrumento podia ser tocado), mais gente apareceu. De artista plástico, fizemos várias técnicas – tinta a óleo, colagem, a guache, em tecido, escultura em argila, entalhe.

No total, quantas edições foram realizadas?

4 anos consecutivos. Na 1a. 9 encontros, na 2a. 32 encontros, na 3a. 30 e, na última, 40. 111 encontros. Em cada ano, houve também o lançamento (com pintura ao vivo ou com todos os artistas) e o encerramento (com a exposição dos quadros que foram pintados ao vivo). Então, foram 111 encontros mais 8 a mais.

Desde a primeira edição, já havia o sarau?

A 1a. Edição aconteceu da seguinte forma: o músico exclusivo, Marcos Trancoso, trabalhava a parte de repertório musical conforme o tema do autor. O horário sempre prevaleceu assim: das 19 às 20h30, o escritor batendo papo livre e o músico fazendo a sua apresentação; não havia pintura ao vivo. (Quando passou a ter a pintura ao vivo eram os três fazendo simultaneamente a sua arte: o escritor fazendo sua defesa com o seu público ou com aqueles adeptos ou sensíveis à cultura escrita, o artista plástico pintando ao vivo além de expor os quadros conforme o seu desejo (nós disponibilizávamos até 10 cavaletes) e o músico fazendo a sua interpretação, a sua leitura ou a sua biografia se autoral.) E de 20h30 até 22hs, acontecia o sarau e sempre foi assim nos 4 encontros.

E havia a participação do público nessa coisa do sarau?

Eu também me preparei para isso. Pensei: eu também vou precisar colocar as minhas amostras, para interpretar outros autores, porque eu sei que não vai dar ninguém, não vai conseguir, quem vai ser o primeiro, etc. E aí foi o contrário, não tinha microfone, todo mundo queria participar. Na verdade, nas duas últimas edições, foi onde mais usei a minha oratória, declamei mais, puxava mais, porque estava tão rebuscado o negócio, tão de qualidade (houve encontros sobre como falar sobre nudismo, sobre homossexualidade, sobre racismo), que as pessoas que faziam as suas poesias, as suas crônicas durante a semana para apresentá-las, ficavam com vergonha, ficaram com mais fino trato sobre o que deveria ser lido… No início, não; todo mundo queria declamar, aquela sede, depois de tanto tempo sem ir, sarau era coisa de burguês ou encontro de amigos quando estava bêbado. Fora isso, não tinha, era no centro, eram poucos, quase esporádico, e vários artistas simultaneamente deram muita confiança para as pessoas virem – não vou apenas para ver um autor que não tenho afinidade, não quero falar sobre isso, mas tem outro artista interessante.

Vc tem ideia do público que ia lá – o público normal era o de classe média, do Jardim Camburi, que ia ao shopping. Vinham outras pessoas exclusivamente para o evento?

Dizem que santo de casa não faz milagre. Posso contar nos dedos da mão quais os artistas, quais os sensíveis, ou os ouvintes das artes, do Jardim Camburi que foram. Primeiro: o público-padrão era o que compra à vista, não o que tinha mais dinheiro, mas o que compra com mais consciência, sem impulso, não vai a qualquer lugar, tem mais controle sobre o dinheiro. Eu só podia mensurar com o público que entrava e o conjunto de vendas, tinha muita loja que vendia no débito e com muita quantidade. O CL tinha um público mais consciente, mais controlado. Segundo: eu vi muita galera envolvida com academia de letras ou dá aula (Ifes, UFES, Darwin, Leonardo da Vinci). Tinha muita gente da área das artes, que frequentava museus, galerias, não era um público isolado. Chamava a atenção a quantidade de alunos, muitos declamando, muitos alunos fiéis (isso começou na 3a e 4a. Edições). A gente convidava os professores, era uma forma de treinar a oratória dos meninos.

E muita coisa de outros autores?

Não, de outros autores era eu [quem lia]. Eu tinha de ler muita coisa, a não ser em momentos específicos. Sobre a mulher, por exemplo. Houve declamações diversas, de vários países, de várias línguas. Momentos: reflexão sobre a escravidão no Brasil, sobre o LGBT com o Fabrício Fernandes, teve a mulher. Mas muitos iam muito fortemente com seus próprios textos. A gente pegou 40% de público padrão. E nos lançamentos era impressionante: a gente recebia gente da Europa, de Recife, do Paraná. Nas 3.a e 4a. Edições já tinha playlist – a gente entregava para divulgação a lista completa do ano e daí vinha gente de fora. Livros sendo dados.

Foi um público, então, que se constituiu ali, para o próprio evento, e não exatamente o público consumidor e frequentador do próprio shopping.

Isso foi bem legal. Tudo se acaba porque um dia começou. O empreendedor tem de ter responsabilidade sobre o meio em que está inserido; além de fazer bem tem de propagar aquilo; tem de ter este “patriotismo” interno. E o CL sempre foi pautado sob este prisma. Se você tem uma responsabilidade, uma estrutura, um tempo ou dinheiro, você tem de disponibilizar para o seu entorno ser autossustentável, se desenvolver. A ideia era: não pode ter retorno nenhum, é obrigação do autor trazer público? Não vou cobrar dele para compartilhar, levar a sério, você não pode exigir que a obra do artista plástico seja maravilhosa para impressionar o público, você não pode exigir que o músico faça um repertório de bar – tipo “toca essa agora”. Esta nunca foi a proposta. [repetem-se as ideias]. Se for o contrário, não é mais cultura, é entretenimento. Aí se joga peso, passa a cobrar entrada e começa assim uma outra pegada.
O problema dos editais do governo que exigem do autor, além da obra, uma contrapartida para a recepção dessa obra

Conclusões: como ser artista criativo, inovador, fazer a obra, e ainda pensar em marketing, finança? é impossível! Se o governo não tem estrutura para isso, por que não privatiza? Um artista, Adelton Silva, saiu de Pinheiros às 5 horas da manhã e vinha para cá de ônibus com 10 quadros para expor e ia embora no dia seguinte com a mesma dificuldade. Ou seja, o que faz o cara fazer isso? Só amor não paga boleto. Ou você tem de dar uma ajuda de custo pro cara, pro translado ($300 reais pra fazer tudo) e só nos resta propiciar um ambiente agradável, que não seja feio, com divulgação, para que o artista não fique sozinho, não se sinta desvalorizado. Se existem 116 escritores e não conseguem dar vazão a isso, a não ser na biblioteca pública onde ninguém vai, em um horário em que ninguém chega ao local, então vão 3 ou 4 pessoas…

No CL, eu vi depressão, solidão, não ter o que fazer, salvou a minha vida (quando estou no sarau tudo sai de minha cabeça, eu consigo levar pra casa uma nova energia). Eu vi gente, alunos de uma escola pública, Renato Pacheco, que falaram que não sabia que poesia não só falava de amor, mas que também se podia expressar com raiva, com ódio, dentro de uma poesia. Uma disse: “nossa, nunca gostei, era sempre obrigatória em alguns contextos escolares, juntavam-se as classes para, além dos hinos, ter de ouvir poesias; nunca gostei; mas aqui eu gostei, adorei essa, nunca mais vou parar de vir. Pegou!”. Algumas letras de música [declamadas como poesia] que conseguem dar um start em seu cérebro, faz cair na real, como essa menina: “nossa, não sabia que podia viajar, entender uma poesia tão curta, com uma letra tão interessante, que [quando cantada] tinha tanta rima que eu não conseguia entender, não entrava no meu ser e depois disso, eu entendi, adorei!” E ela foi várias vezes depois. Tinha Léo Ferreira, Michele Brandão, Jô Drummond e várias outras professoras que diziam: “ah, eu adoro porque eu consigo ver alguma coisa que me limpa os olhos depois de um dia de trabalho, consigo purificar meu ouvido com boas palavras”. Eu, pessoalmente, achava que o CL, depois de um dia de trabalho, era meu momento de relaxamento; ao invés de ver televisão, o sarau alivia, mesmo com os conflitos. Para mim, o sarau poético era uma televisão, mas uma televisão que me fazia pensar, me relaxava, absorvia o que as pessoas queriam, analisava o que eu queria, externava o que eu desejava e eu tinha o mesmo efeito de uma novela da Globo ou do jornal, mas em contrapartida com muito mais conteúdo, porque não era uma leitura do que aconteceu, mas uma releitura de vida das pessoas, de conduta, do momento que aquele escritor passou, do momento que aquele artista plástico se encontrava e da alegria na voz de um artista musical. Era a minha troca de momento de burrice que eu tinha com a televisão com esse momento que não me fazia mal, que me fazia fazer links, pontes com o que eu tenho à disposição para dar feedbacks àquelas pessoas na minha frente. Era ótimo! Muita gente vinha de longe e agradecia, querendo o projeto em suas cidades, mesmo sem ter o âmbito de um shopping, mas com as calçadas das ruas, das escolas.

No CL, também não havia aquela obrigação de formação do leitor, de formação do apreciador de arte…

A primeira intenção de nosso projeto era tocar o sensível à cultura. Porque, se você já tem uma gama nesse quesito, você vai ao museu, às exposições, procura os canais oficiais da cultura. O CL
estava disponível àqueles sensíveis à cultura e àqueles que queriam aprofundamento na cultura em que já estavam incluídos, que queriam conhecer novos autores, novos artistas plásticos, e ouvir boa música.

Mas uma coisa negativa é que havia escritor ou artista que ia no seu dia e não voltava mais, não prestigiava os outros encontros…

Exato. Dos 111 encontros, eu só faltei em um só. Foi no lançamento de um livro de um artista da Globo (trabalhava na Grande Família). Prova de que os escritores só iam nos dias deles é que não deu ninguém. Talvez porque não fosse do ES… Embora não tenhamos lançados apenas escritores do ES, a maioria era do ES, ou pelo menos, inserido no ES. Eu não sei dizer o que acho disso; fiquei muito triste, porque das cadeiras disponíveis, o menor público [que o CL teve] foi de 30 pessoas e o maior público de 800 pessoas. Engraçado é que os autores que iam apenas esporadicamente tinham o menor público. É certo que 2 ou 3 tinham uma gama de seguidores que se empenharam pra trazer gente, se sentindo “culpados” para trazer gente. Nunca questionei isso, pois pra mim nunca teve problema porque eu podia declamar mais, mas muita gente reclamou disso: “poxa, não vem”.

Na última edição, tinha o quesito que pedia para pelo menos ir em dois encontros, um antes e outro depois do seu, mas isso era apenas pro forma, nem sempre se cumpria.

Mas isso era apenas sugerido, no final, porque a gente tinha um certo desconforto interno, que não deixava transparecer para o artista. Se [o evento] fosse visto mais antropologicamente a gente via pessoas se debruçando [o evento acontecia no hall do rés do chão com abertura para o andar superior], parar por dez minutos a corrida do dia a dia, e a gente conseguia ler nos lábios delas, ver diversas expressões faciais. Aí então pensava: “puxa que pena, que desrespeito dos artistas [uns para com os outros]”, mas a gente não podia cobrar isso, mesmo se a pessoa não entende isso, mas não vou virar pai, não sou educador, não tenho essa pretensão… Mas o que nunca tive com os artistas foram lamentações. Todos entenderam a proposta. Do autor global, eu lamentei e ele disse: “olha, estava tudo organizado, as mesas bem-postas, o cantor e o artista plástico estavam lá, o fotógrafo estava lá (porque eu é que fotograva sempre, todo mundo tem seu álbum, o mais organizadinho possível), não sei o que pode ser dito.” O CL teve estes problemas mas muitos escritores se desculpavam porque tinham aulas e eram professores, coincidindo o horário.

Agora vamos falar de projetos agregados ao CL. Paralelamente a ele, eu fiz 3 anos de Café Infanto-Juvenil, um projeto bem audacioso porque não tinha público no tocante à cultura. A gente tinha convidados pedagogos, professores de escolas, das primeiras letras, do infantil, do primário até o fundamental 2 no máximo. O objetivo? Era mostrar o escritor capixaba a esses detentores de conhecimento, compradores, professores, pedagogos, diretores, que iam indicar o livro se assim fosse conveniente, fazendo o plano diretor de aula e o apresentando à Secretaria de Educação como parte dos livros a ser adotados no ano. A cada ano, teve 7 encontros, com parceria da Livraria Logos e nós, do Shopping, investíamos pagando o cachê do escritor, do contador de histórias para as crianças que também compunham esse público, iam pra lá, ficavam dentro de um espaço montado ouvindo as histórias daquele livro específico enquanto o autor conversava com os professores para mostrar a importância de seu livro, enquanto os contadores de histórias demonstravam como o professor podia trabalhar com aquele livro na sala de aula. Fez parte do projeto o livro “O Gato Verde” que já está 6 anos sendo usado como material didático pelo setor de educação do estado. Também tinha como convidados professores da rede particular para pleitear junto à direção de suas escolas.

Outro projeto, que dura até hoje: o Ateliê Norte-Sul. Os artistas que pintaram nas 4 edições do CL têm uma sala no shopping, gratuita, onde eles lecionam, vendem, expõem e fazem projetos paralelos no saguão do shopping, como recentemente 10 alunos fizeram, depois de um ciclo de um ano, uma vernissage com suas obras. Fazemos 2 exposições por ano. Livres e gratuitas.

Outro projeto, que durou 2 anos, foi a galeria de Arte, Galeria Cultural Norte-Sul, que tinha um curador, que trabalhava com 6 artistas em média. Além da exposição, gratuita, no decorrer da semana, aulas de técnicas, palestras, diálogos sobre a construção das obras, também gratuitas, que eram a contrapartida de cada artista. E ficava aberto, como o Ateliê, durante as 12 horas de funcionamento do shopping.

[Indagado sobre, responde: A Associação do Bairro Jardim Camburi continua lá. O sarau que havia com o Marconi não está mais lá.]

Hoje, aqui em Vitória, sarau que conheço apenas o do Solar Monjardim, fixo, de quinze em quinze dias. No último domingo do mês, acontece um sarau na Academia Humberto de Campos, antiga Academia de Letras de Vila Velha, na Prainha. E esporadicamente, na Editora Causa, que frequento on line, faço considerações, escrevo…

Quando vc começou o CL, havia uma manifestação semelhante em Vitória?

Não. Um ano e meio depois, vi uma manifestação semelhante em Recife, microfone aberto, sem tema proposto, e sem juntar três gêneros artísticos simultâneos – coisa que nunca vi em qualquer outro momento. A gente juntou membros de 30 anos de Academia de Letras, supostamente com uma roupagem intelectual muito grande, com uma produção de 10, 30 livros, participantes de simpósios, bienais, com gente jovem, recém-saída da UFES. E nunca vi, neste contexto, ninguém faltar porque estava junto a outra pessoa; juntamos lésbica com hétero, negros com brancos, altos com baixos, homem com mulher, gente que trabalha com aposentado, gente que nem tem faculdade com gente que tem doutorado, um sanduíche impressionante. E juntando três categorias diferentes de artistas. Pensei que o maior problema seria com os músicos porque eles se apresentavam em um shopping, onde sempre são pagos, onde se tem um local de shows, um palco, para atrair gente. E no CL, não. O público ia lá pra ver o artista, aplaudir o artista, mesmo que não o conheça. [Repetem-se as ideias. Fala sobre o músico Léo Nunes] A dificuldade de produzir o evento – juntar horários, mandar releases, muitos acreditando que era trote quando convidado. Na 1a. Edição, havia dinheiro do setor de marketing do shopping; na 2a. Edição patrocínio da Vale, pouquinho; na 3a. Veio o Banestes, financeiramente, porque já haviam outros parceiros, que davam os impressos, os banners; a Logos divulgava os livros. Um único artista saiu meia hora mais cedo porque queria dinheiro, o negócio dele era mercadológico. Na última edição, a gente comprava algumas obras e algumas delas ficavam em outro projeto, a Geladoteca, uma geladeira onde os livros ficavam expostos mas que foi sendo jogada de um canto a outro para ser quebrada, do lado de fora, por um morador de rua.

Uma funcionária do shopping me disse que o dia que ela mais gostava de ir trabalhar era no dia do sarau, porque ela não tinha dinheiro para comprar os livros e no sarau ela sempre pega um.

O público interno do shopping era quem mais criticava o evento porque todo mundo queria melhorá-lo. Falavam: “na semana que vem, tem de tratar deste tema, tem de tocar esta música, mandavam mensagens dizendo que eu entendi poesia agora”. E no CL a poesia declamada era cruel. Uma escritora, autora de um livro de bolso, muito crítica, da umbanda, falava coisas muito pesadas, como sua poesia “Puta” que ela leu com ênfase, gritando “sou puta mesmo!” Outro escritor falava das suas orgias incríveis com o seu professor de teatro, misturando ficção e realidade, enquanto nas paredes eram projetadas cenas dos livros, imagens em transparência, cenas de sexo explícito em silhueta, preto e branco, como em cordel. E isso provocava muito comentário, muito feedback; outros feedbacks eram de artistas que me abraçavam, dizendo ter adorado; uma autora de Minas me trouxe uma cesta cheia de derivados de leite (adorava os presentes), dizendo: “nossa, Leonardo, não tem isso nem na Bienal!” Era uma coisa impressionante!

Fazer o CL foi uma coisa que me deu mais prazer, mas também me deu mais tristeza, por ter acabado, por ver escritor se aliando para não comparecer ao evento de um outro, por ver público passando sem apreciar nada daquilo. Mas mesmo assim vale a pena ter pressionado o público e o privado para fazer a sua contrapartida social no sentido de cultura, seja ela qual for. O artista capixaba tem responsabilidade por seu nome, ninguém faltou, nenhum teve desdém pelo projeto, nenhum foi lá como muambo (?). Fiz alguns inimigos depois, 5 ou 10 por cento, o cara que queria receber pela 1a. Edição porque na 3a. Edição se recebe. Levei o CL para a FLICA (Feira de Livros Capixaba), com café gratuito, livros gratuitos, sarau de poesia e teve escritor que quis retirar o livro da exposição porque não gostava de mim. O CL foi o melhor projeto que já fiz. Um artista, Caio Cruz, que saiu da UFES, e foi rejeitado pela própria UFES, expôs aqui e foi o artista com a maior visibilidade que o CL teve, uma página inteira de jornal, com desenhos em carvão. Ele mostrou imagens fortíssimas, sem pudor.

Foi muito difícil fazer o CL. Todos os dias, eu pensava no CL. Toda 2a. Feira eu tinha de escrever, na 3a. Corrigir, na 4a. Fazer todo o design de impressão, na 5a. Disponibilizar toda a impressão (banners, redes sociais do shopping, a mala direta, etc.). E tinha eventos paralelos do shopping, durante o ano pelo menos 65 eventos, campanhas de liquidação, etc. Não podia viajar pra lugar nenhum, mas no sábado eu tinha um orgasmo por tudo ter dado certo. E na semana seguinte, começar tudo de novo: a parte social, reuniões, a imprensa, os artistas, fotografias, pra na 6a. O babado acontecer. Acabava no Natal, passavam as férias de janeiro, carnaval, e tudo começava de novo. Na 1a. Edição foram 3 meses, nas outras 9 ou 10 meses por ano. Mas o prazer era renovador – com 3 categorias diferentes!!

Outra coisa fundamental era o contato anterior, o diálogo, a solicitação para que viesse em um outro encontro, conversar, abraçar, recepcionar, abrir o projeto, combinar. Alguns escritores acreditavam que o evento era dele, mas não era. Eu era muito moço, lidar com as academias de letras, professores da UFES, falar com conselheiros, doutores, phds – como falar com um cara desse? O prazer foi que todos me respeitaram… apesar dos egos. Todo mundo aproveitando, o público é que interessa porque se o público valoriza aquilo vc é mais conhecido, mais valorizado e ai vc não para. Incentivar o artista, ter um som bom, uma estrutura. Valeu o trabalho, mas levar o CL para a FLICA foi mais trabalhoso. Não era o meu âmbito, não era o meu campo, não tinha o controle daquilo. As pessoas estavam mais interessadas em horas-aula, horas extras, matar o trabalho ou divulgar o seu livro, mas dentro de um contexto diferente. Quando vc vai em uma feira vc paga pra entrar, paga para alugar um espaço, cada um por si, ao final fica bonito mas vc lança um livro ali com outra criação do lado ou ou os estandes não param de fazer atividades extras para chamar a atenção e o seu lançamento fica vazio… No caso do CL, vc conseguia ver um artista, aproximar-se dele, ouvir uma música, um respeito muito mútuo.

Djair: o que eu lembro, o que mais me marcou dos saraus do shopping era quando eles aconteciam no hall do térreo e as pessoas, que estavam nas compras ou passeavam ou tinham saído do cinema, paravam e se debruçavam no parapeito do 1o. Andar e ficavam ouvindo…

Era lindo! Quantas vezes eu vi caras bombados (no estereótipo, caras que trabalhavam o corpo e não o cérebro, não é uma crítica não) que paravam e ouviam ou iam cantar e às vezes dialogavam, faziam um combinado de canto e declamação. Ou seja, existe muita gente sensível à cultura que está doido querendo mas não consegue ter cultura em seu próprio quarto. Um sujeito com uma galera bagunceira conseguiu convencer a turma a ficar e conversou com o Marcos Trancoso, cantou, depois fez uma poesia falada. Vc desperta a sensibilidade que só não se desenvolve mais porque não tem espaço propício para isso.

Qual a impressão mais forte que um sarau deixa em você?

São duas impressões. Primeiro, o que o CL deixou em mim, o que mais me fortaleceu foi perceber que por mais que sejam mercadológicas [as pretensões], tudo pode ampliar os nossos valores que vêm da família, da escola, das etapas que a gente passa pela vida e tudo isso eu consegui somar com o CL. Eu descobri que podia me comunicar, aprendi como não ser negativo, como tratar bem uma pessoa e fazê-la interessar-se por vc sem que vc pareça frouxo ou tolo, o bobo da corte, como falar duro mas depois fazer uma piada e a pessoa sorri. Aprendi como uma pessoa pode vir até vc e isso tudo foi fruto do CL. Aprendi que todo mundo tem o direito de fazer o que bem quer da vida, não existe o certo e o errado. Tudo tem um lado mais verde e consegui ver isso na prática. Com o CL aprendi como posso fazer minha oratória para que aquilo fique coerente, como posso não ter parâmetros e ter sucesso, fazer tudo, criar novos paradigmas, dar um clique em outra pessoa. Acho que milhares de pessoas usaram o CL para se salvar de alguma coisa – e eu fui uma delas. Salvar de meus medos, de meus sonhos brancos e negros, das minhas vontades, das minhas frustrações. Vim do interior e tinha a obrigação de estudar, vencer na vida, ajuntar dinheiro para voltar para lá. A minha pretensão inicial era fazer um site em que todas as pessoas e as instituições voltadas para a cultura divulgassem seus trabalhos ali. Jamais pude imaginar que eu seria um protagonista da cultura. Hoje estou sendo entrevistado. Consegui educar, letrar, sensibilizar mais gente com menor custo possível. E isso não é o futuro hoje? 3.000 pessoas passando pelo horário do CL, multiplicado por 110 encontros, veja a quantidade de gente que consegui impactar. Quando saí do interior, ainda carregando a carga de ser gay, só tinha a opção de ou se prostituir ou ser político ou roubar. Consegui comprar uma casa, um carro, sou casado, tenho trabalho, faço mestrado, preparo meu doutorado, mas rico do que isso, e sem roubar, olha o quanto o CL conseguiu me propiciar. [Veio de São Gabriel da Palha, norte do ES, terra do café canelon]. É claro que hoje tenho outros objetivos mas o CL conseguiu me fazer conhecido e hoje estou aqui com você. CL me deu uma nova lupa pra mostrar que cada um precisa fazer alguma coisa para a sua rua, o seu bairro, o seu estado, o seu município; cada um tendo suas ideias e sua força. Bem diferente de ser nomeado politicamente, fui um empreendedor por necessidade – sou gerente de marketing, preciso fazer o shopping bombar (promovi liquidações, feira de casamento, apresentação de corais de escola, ornamentação de natal), mas fazer o CL foi o melhor projeto que eu fiz, mesmo tendo trabalhado com um projeto que estudava a acessibilidade para os cegos em espaços públicos. No shopping, consegui encaixar tudo.

Qual o maior obstáculo?

A maior dificuldade foi lidar com três modalidades ao mesmo tempo, tentar fazer o som ser bom dentro de um shopping, não classificar, lidar com gente passando e eu sem mesas e cadeiras (só depois é que foram compradas), não tinha equipe a não ser eu porque todo o resto era terceirizado (assessor de imprensa, agência de publicidade). Como eu era o mentor, o organizador, tudo o que saísse de errado era culpa minha. Primeira dificuldade, a interna: os artistas, porque tinha de trabalhar com o ego deles, tentando mostrar a eles que aquilo não era comercial, me pediam coisas loucas, a mais (como vender os livros lá, quando existia a editora Logos lá), às vezes tinha de jogar pesado porque eu também queria ser entrevistado, ter meu nome no jornal, ter menos trabalho (eu também tinha meu ego) e o cara queria lançamento de pompa… Já falei de quem queria receber cachê porque, na edição em que trabalhou, não teve cachê, esquecendo que tudo é processo, antes não teve patrocínio, nessa outra edição tem, etc. A segunda dificuldade, a externa, que me fez chorar várias vezes foi que sempre pleitei incentivo pelas leis de incentivo e não tive resposta. A SECULT, com a secretária Nahas falei pessoalmente, protocolei em março, da 2a. para a 3a. Edição, um projeto e meses depois recebi um bilhete dizendo que não podia ser patrocinado, a não ser que aceitasse coisas e não dinheiro. Como o projeto iria ocorrer na área externa do shopping, eu pedi dois banheiros químicos, um palco com iluminação e um técnico de som. Ela me respondeu: “não, não posso fazer esse evento”. Tentei argumentar mas ela disse: “os meus contratos já estão vencidos, já usei tudo.” Fui lá para quê? Saí chorando. Ou seja, a minha maior dificuldade foi perceber que nenhuma lei valoriza de fato o que deve ser valorizado, mesmo com tudo faturado, com nota fiscal, documentado. Eu achei que nenhum intelectual, que nenhum secretário de cultura sabe o que é o CL, senão apoiava. Não apresentei mais nada. O único que aceitou falar comigo foi o Alexandre Lima, secretário estadual de Cultura, aceitou patrocinar quando ficou conhecendo o projeto mas enfartou dois dias depois. No início de 2017, o CL supria 30 por cento da demanda de escritores beneficiados pelas leis de incentivo de Vitória.

Dados da SLL permite concluir que o governo patrocina o mercado livreiro com a edição e não o cidadão, o leitor, porque os recursos disponíveis para a promoção da leitura são insignificantes.

E tudo é muito incoerente porque a quantidade de livros não circula, as empresas patrocinadoras, as bibliotecas públicas, ficam com os livros estocados. Conheci muitos bons escritores que não têm nenhuma visibilidade. Tenho hoje um projeto, de qualificação para professores e alunos, de desenvolvimento de um software para ensinar literatura capixaba dentro das salas de aula e por meio desse aplicativo podemos fazer videoconferências com os autores, trabalhando com temas escolhidos com os alunos e depois com os gêneros (crônica, poesia, cordel) – um soft educacional, interdisciplinar, que incentive pesquisas, perguntas – essa é a minha ideia de mestrado.

Por que acabou o CL?

Por uma série de fatores. Primeiro, me senti mais forte para voar, fui fazer MBA e isso me distanciou um pouco. Tentei fazer um livro maravilhoso com 400 páginas, mesclando da última edição 22 autores com 22 artistas plásticos mais um CD com os músicos, mas infelizmente não consegui um patrocínio. Veio a decepção, resolvi me qualificar, fui fazer o TCC. Como lidar com secretários de cultura que nem são da área? Cheguei à conclusão, também, que nem mesmo os artistas não lutam, estão se acostumando, se tem faz bom proveito, se não tem deixa tudo como está, e aí julga o governo, a vizinhança… Eu percebi que não ia ter nenhum investimento por parte do Estado, apesar do privado estar oferecendo o seu espaço, e também ninguém gritou e, se a gente não se posicionar, não vai acontecer nunca nada! Deixei de lado porque a literatura não está inserida na nossa cultura, falta educação. O CL é um projeto adulto para o qual falta apenas alguém dizer sim, para alguém que quer fazer alguma coisa na sua rua, no seu bairro. Não somos tão patriotas assim! Mesmo tendo milhões de coisas que podem ser feitas. Mas se tem a minha culpa por esmorecer, tem a culpa do governo por não patrocinar, tem a culpa dos escritores por não participarem dos eventos, a não ser o seu, tem a culpa do shopping porque agora só se quer público, mas tudo isso precisa ser dialogado. Infelizmente, acho que nem mesmo o artista acredita na cultura, mas continua produzindo. Felizmente, o novo sempre vem e vai vir. Quem tiver sensibilidade para se ater a isso, eu fui um que fiz como gestão. Eu continuo pesando no shopping como um local de cultura. Mas infelizmente os gestores não estão antenados com o que se produz e aí se perde essa oportunidade. E por isso se encerrou o CL. O difícil é que a gente fica com saudade!







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